sexta-feira, 26 de julho de 2013
Comprimidos para dormir
O mundo acaba todos os dias. - Não sei dizer mais.
Mas o que sei,
é que o mundo acaba.
O mundo acaba todos os dias.
O que é que fazemos com o que ficou por fazer? - Aceita-se que o almoço seja mais cedo. Que o despertador não toque nas horas esperadas. Aceita-se que alguém entre na nossa casa sem limpar os pés, e adiamos as despedidas já com a ânsia de lavar o chão.
O que é que se faz com aquilo que se devia ter feito? Adormece-se antes da hora e acorda-se depois da hora. E a vida passa e nada se faz com o que devia ser feito, a não ser deixar morrer, até morrer.
Não se descansa desde o primeiro choro à ultima lágrima - Gostava de saber dizer mais.
Por exemplo,
Como se engole em seco sem sentir o estômago estreitar-se,
E como se come silêncio sem sufocar.
Mas o que sei,
é que as almofadas não renovam a alma
como as noites não renovam a vida.
Não se descansa desde o primeiro choque à ultima felicidade.
Não é o relógio que queremos parar. - É a cadeia de movimentos que nos antecede e sucede. São as palavras que não pensámos bem e as mãos a acenar que se mordiam interiormente para deixar soltar as pernas em vez de si. Queremos a estaticidade e o vazio que anexa a si, aquele espaço em que a cabeça se expande e dilata e é ar a desaparecer. - Tudo o que somos em espirais de calma, em espirais de desapego que se misturam com o infinito.
É nesses vácuos que podemos respirar - no momento seguinte descobrimos pelo vivemos. Por quem vivemos. No momento seguinte descobrimos a calma da prontidão para a morte. O sossego da paz.
Os discursos perdem o seu encanto - Não sei qual o momento
em que passam a entulho.
Mas um dia, são só ruídos habituais
Como a máquina de lavar loiça
E a televisão ligada a passar canais.
O que sei é que
Vozes desconhecidas a calar
as que desejamos nunca ter conhecido,
É um conforto que nos mantém sãos.
O mundo acaba todos os dias porque nós o estreitamos com gestos circulares e significados redundantes.
Acaba, principalmente porque o corpo pede o repouso do que parecem milénios de memórias e lixo guardado. - Somos como gavetas da secretária. Somos mistura de papéis meio amarrotados e cruzes partidas. Canetas esventradas e flores secas. Coisas com uma carga emocional demasiado grande ou demasiado pequena para que não as lembremos ou não as queiramos lembrar.
Nunca fomos animais corajosos.- Somos animais empurrados.
O mundo acaba todos os dias. - Não sei dizer mais.
Gostava de saber dizer mais.
Por exemplo,
Qual o momento em que se aprende
A viver em paz
Com os finais.
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