terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Tinha uma casa


 Fechadas as janelas
 E arrumados os espelhos
Deixei o pó assentar
nas mazelas
E nos velhos
frisos do tempo
pus fechos.

Marcam-se no chão
as pegadas
meio apagadas,
Achava,
Mas quando se descura
o sotão
Há ainda muitas noites
ao relento
Numa casa
sem sustento.

Presas nas pequenas
e inúmeras caixas
queixosas
Vozes a querer
fazer-se amenas,
Mas as àrvores frondosas
foram com o Outono
e as tão habituais regenerações terrenas.

Sou pequena neste lugar
onde deixou de existir lugar
para a minha fragilidade.
É-se para sempre criança
na lembrança
da felicidade.
E ainda assim gigante
sem orientação ou
idade.

Há também uma parede
que dói;
Um resquício que mói;
A presente realidade,

A falta dos pés descalços
ou das descobertas inocentes.
A idade dos acasos
E dos sorrisos permanentes.

Nestes alicerces,
as minhas histórias:
Arrependidas ou reticentes,
poucas glórias;
Formam-se gentes
que dizem:
Devo fechar portas.

Sou pequena neste colo
onde não existe corpo
para me embalar.
É-se sempre apertado
onde não se pode ficar.
E ainda assim,
de tempos a tempos
Quando a tempo para colmatar
Ao pó voltamos.

Vivemos imersos na ilusão
que ainda existem possibilidades
de o limpar.
Mas as saudades são sempre
um tempo sem forma
nem lugar.

E vou
há uma casa por habitar.