quarta-feira, 16 de abril de 2014

Os espaços nos teus olhos


 Os teus olhos têm os espaços a que fechei os olhos- puxas-me as mãos e dizes: respira.
 A tua cabeça vira
 e eu sou um milagre a acontecer.
 O reflexo de mim em ti sou eu a viver.

Puxas-me as mãos e dizes: silêncio.
E a tua face desenha-se nas medidas
desconhecidas
da longa espera.
Eterna. - E não és Primavera
És qualquer coisa inventada
para me dizer: respira, comigo podes viver.

Tenho-te nas linhas
nas palmas das minhas mãos
Nas noites mal dormidas
e nas questões que adivinhas,
Tenho-te até na minha solidão
cheia.

Os teus olhos têm o movimento lento
dos filmes que se fazem para falar do amor.
Lamento perdê-los no emaranhado do vento
e cabelo
Ao meu redor.

Mas tu ris e não há importância que
chegue para não importar.
As tuas mãos puxam as minhas mãos
e dizem sem falar:

Aqui, aqui podes ficar.

As lágrimas nunca chegaram,
mas hoje não me importo de as deixar.

Os teus olhos têm os espaços onde me enrolo
e abrigo.
Mal posso acreditar que existe um lugar
onde não há perigo.

As lágrimas nunca foram boa companhia,
mas hoje são sorrisos que já não têm por onde escapar.

E podem, podem ficar.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Ruído de fundo


 Tenho os dedos enrolados em ânsias
  e não sei o que eles querem dizer.
Provavelmente palavras já ditas
 das quais poucos - quase nenhuns - quiseram saber.

Tenho as unhas cravadas em orações
que não sei a que deus dirigir.
Foram tantas as noções que me foram dadas
tanta a vida a emagrecer
Que deixei de me saber digerir.
Disseram-me que mãos dadas
E sorrisos abertos
Eram paz.

Abro as mãos e sorriu muito
E se deus me responde às pobres orações
ele não passa de um pequeno rapaz.

Se nada sabemos
Adormecemos
Como se na almofada a frescura
fosse mais que solução.
Aprendi que a loucura
de saber muito, é também
- e pela mesma razão -
Não conseguir adormecer
E ter os dedos enrolados em ânsias
que não sei o que querem dizer.

Há este excesso de justificação,
-o lixo esquecido e abandonado-
Muitas razões para o que melhor
seria silenciado,
E a subtileza de presunção
que enoja e repugna.






Tenho a vida sepultada
nas questões para as quais não há respostas.
Trago nas costas o peso
de morais já mortas
E na cabeça o ruído de fundo
de um mundo
Feito de modas.

(Eu, tu, ele, nós vós, eles. Somos mais que trapos e posturas tortas.)